Nossa Senhora da Saúde

Nossa Senhora da Saúde
Este Ícone de Nossa Senhora da Saúde minha mãe o adquiriu no ano que eu nasci (1946) e está comigo até hoje.

sábado, 27 de outubro de 2012

NOSSA SENHORA DA DIVINA PROVIDÊNCIA







Desde o século XII, Nossa Senhora da Divina Providência já era invocada na Itália, sempre representada em pinturas e afrescos com um I menino nos braços. Só no século XVIII, porém, esse título foi reconheci do oficialmente pela Santa Sé e se espalhou pelo mundo.

A história desse quadro teve início quando, para ampliar a famosa Piazza Colonna, foi preciso demolir um antigo convento ali existente. Em uma das paredes estava encrustado o belíssimo afresco de autor desconhecido, representando a Virgem Maria.

Quase um século depois, um jovem sacerdote encontrou entre velhos documentos um manuscrito sobre a construção da igreja e do mosteiro, no qual o fundador dizia ter sido a Virgem Maria sua única provedora naquela obra. Como por inspiração divina, mandou fazer uma cópia do quadro doado pelo engenheiro e colocou-o no corredor entre o conven­to e a igreja, com a seguinte inscrição: "Mater Divinae Providentiae". Em sua iconografia original observa-se que somente a Virgem tem uma fina e luminosa auréola em torno da cabeça, o menino em seus braços representa a humanidade sob a proteção de sua mãe.

Apesar de todo cuidado que tiveram para removê-l o, não consegui­ram evitar que o quadro caísse e se fizesse em pedaços. Incorformado, o arquiteto responsável indenizou os religiosos e mandou providenciar um outro quadro da Virgem Maria, que ficou exposto no altar de São Carlos, onde os irmãos se reuniam para rezar.

A devoção a Nossa Senhora da Divina Providência espalhou-se e nas Américas foi trazida pelos padres barnabitas. Porto Rico, pequena ilha das Antilhas, elegeu-a sua Padroeira. Os portorriquenhos dividem sua devoção entre Nossa Senhora da Divina Providência e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

São Judas Tadeu



São Judas Tadeu, celebra-se dia 28 de outubro 

Alfeu (nome original de São Judas Tadeu), nasceu em Nazaré, na Galiléia. Era filho de José e Maria Cléofas, uma das santas mulheres que acompanhavam Nosso Senhor Jesus Cristo, de acordo com o relato evangélico de Jesus no Calvário, e quando o anjo anunciou a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Judas, de sobrenome Tadeu, que significa “gentil, misericordioso, amoroso, generoso” e “Lebeu” corajoso, era da estirpe real de Davi e primo de Jesus.

Tinha quase a mesma idade do Salvador e passou sua infância com Ele.

Era de espírito sensível e generoso, olhar penetrante e sorriso doce e amável, como o de Nosso Senhor, de boa aparência, São Judas Tadeu foi um dos primeiros a receber o chamado para ser apóstolo e seguir toda a sua vida, sem hesitação e com firmeza heróica, junto ao Senhor.

Sua existência, durante a vida pública de Jesus, foi semelhante à dos outros Apóstolos. Seguiram o Mestre em sua viagem pelas terras palestinas e permanceram ao lado de Jesus nos dias que antecederam a crucificação. Foi então um dos doze apóstolos que estavam com Nosso Senhor, na Última Ceia. Ele é quem perguntou: “Senhor, qual é a causa porque te hás de manifestar apenas a nós, e não ao mundo?” (São João 14:22). Em resposta Nosso Senhor disse: “Dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo; não se turbe o vosso coração, nem se assuste” (São João, 14:27,28).

De acordo com o Martirológio Romano o campo de trabalho apostólico de São Judas foi enorme: primeiro evangelizou a Judeia; em seguida, Mesopotâmia e Pérsia, levando à toda parte a luz da verdade.

Foi de uma dessas províncias que o Apóstolo dirigiu uma carta aos fiéis; num estilo vivo, incita-os a lutar contra os heréticos, por causa de suas blasfêmias, injustiças de suas falsas doutrinas, por deturparem as questões fundamentais da fé, e darem escândalo nos descaminhos de suas fantasias.

Na Pérsia, juntamente com São Simão, evangelizou as nações bárbaras e, mediante inúmeros milagres, ensinou e converteu à fé os pagãos. Os adivinhos e feiticeiros do lugar, invejosos, incitaram o povo a se revoltar. São Judas e São Simão se recusaram a submeter aos seus deuses e a fazer sacrifícios a eles. Por isso foram martirizados. Estima-se que o martírio deu-se no ano 70 dC A Igreja celebra a sua festa de seu martírio no dia 28 de outubro.

Os restos mortais dos dois Apóstolos foram mais tarde transportados da Babilônia para Roma e depositados na Basílica de São Pedro, na capela ao lado de São Pedro (também conhecida como da penitência), à esquerda da Confissão.

A Igreja e o povo católico, desde o século XVIII, celebra-o e o invoca como patrono dos casos sem esperança, das situações sem remédio, como o santo dos casos impossíveis. Porque a Providência Divina concedeu a São Judas poderes especiais e extraordinários para resolver de modo maravilhoso especialmente os casos particularmente difíceis. Milhares de pessoas, diariamente, recorrem a seu auxílio e em muitas ocasiões suas orações foram atendidas de forma milagrosa, mesmo quando a situação parecia sem esperança.

Seja qual for a doença, pobreza e miséria, a angústia do coração e da alma, até mesmo desespero, pode-se recorrer a este grande santo e beneficiar-se de sua poderosa intercessão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Santo Inácio de Antioquia

Celebra-se a memória no dia 17/10
Santo Inácio de Antioquia: Aquele que portava Cristo no seu coração

O Coliseu romano guarda até hoje o calor dos feitos heróicos que se passaram em sua arena. Ali, a graça do martírio penetrou profundamente e legou à Cristandade uma de suas mais gloriosas páginas. O exemplo do primeiro bispo de Antioquia encerra toda a doçura e a força com que a Santa Igreja lançou suas divinas raízes.

Quem já teve a oportunidade de viajar para Roma e conhecer seus antiqüíssimos monumentos - obras-primas da inteligência e da capacidade de nossos ancestrais - certamente terá experimentado uma forte atração ao deparar com o anfiteatro Flaviano, mais conhecido pelo nome de Coliseu.

Sólido e bem edificado, com suas galerias de arcos tipicamente romanos, ele atravessa os séculos, insensível ao tempo, como imagem de um passado que poucos sabem admirar. Com efeito, hoje em dia o Coliseu é objeto da incessante curiosidade dos turistas que o visitam durante todo o ano. Muitos formam intermináveis filas para nele ingressar, com o desejo de fotografá-lo e depois vangloriar-se de ter estado num dos locais mais famosos do mundo; outros percorremno com o mero intuito de constatar seu valor artístico e estrutural; poucos são, porém, os que para lá se dirigem na intenção de rezar.

O imperador Vespasiano, invejoso da afetuosa lembrança que o povo guardava a respeito de César Augusto e sabendo que este, antes da sua morte, prometera construir um imenso anfiteatro que excedesse em esplendor todos os edifícios do mundo, concebeu a idéia de realizar este plano e assim rivalizar em fama com aquele seu predecessor. No segundo ano após sua ascensão ao trono (72 d.C.), Vespasiano iniciou sua obra. Entretanto, também a ele não seria dado ver o objeto de suas ambições, e a morte colheu-o antes de ser completada a construção, que só seria dedicada no ano 80 d.C., por seu filho Tito. Este último teve grande parte na ereção do anfiteatro, empregando nos trabalhos aproximadamente 50 mil prisioneiros, trazidos de sua vitoriosa campanha na Judéia.

Construída especialmente para ser palco daqueles jogos de gladiadores que os romanos tanto apreciavam, a gigantesca mole estava, porém, reservada para servir de quadro a combates de fé e de heroísmo muito mais gloriosos do que desprezíveis eram aqueles espetáculos pagãos! Se os divertimentos do Coliseu deixaram uma mancha no passado por causa das horríveis cenas de crueldade ali representadas, outros fatos, sob o ponto de vista sobrenatural, constituem uma das mais belas páginas da história da Santa Igreja.

Pedestal de bem-aventurados

É com espírito de piedade que deve penetrar no Coliseu o verdadeiro peregrino católico. Bastará permanecer em silêncio por um curto tempo, para perceber os imponderáveis e inverossímeis de fé, força e coragem que habitam sob essas numerosas arcadas. É evocativo esse edifício, no qual cada pedra tem um belo fato para contar e até as gramas e os musgos mais recentes desejariam dizer uma palavra sobre aquele passado feito de sangue, dor e glória. Contemplando mais detidamente essa arena, outrora pedestal de tantos bem-aventurados, podemos ainda divisar os compartimentos onde as feras eram mantidas na fome. Vê-se também ao lado destes as celas que aprisionaram os que hoje constituem uma verdadeira legião, no gozo da visão beatífica. Essas veneráveis ruínas, nas quais refulge um misterioso brilho sobrenatural, parecem cantar, ao longo dos séculos, a célebre frase latina: sine sanguine non fit remissio; lembrando aos homens que, para ser verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, é necessário primeiro segui- Lo até as ignomínias do Calvário para depois participar do triunfo da ressurreição. Sim, foi sobre essas pedras benditas, banhadas de sangue católico, que nasceram as raízes da era em que a filosofia do Evangelho dominou sobre todos os povos.

Ouçamos, pois, atentos, um dos emocionantes feitos que esses valos, essas muralhas e arcadas têm a nos narrar.

Inácio, o Teóforo

Corria o ano 106 da era cristã. O imperador Trajano festejava sua vitória sobre Decébalo, rei da Dácia. Querendo manifestar seu reconhecimento aos deuses, a quem atribuía seu recente sucesso, Trajano organizou uma perseguição contra os cristãos que negassem a existência dessas divindades. Entre os condenados estava um venerável ancião, presa de grande valor, - pois se tratava do bispo de uma das cidades de maior importância naquela época - varão que gozava de muita estima e autoridade entre os fiéis da Ásia Menor, por ter sido discípulo do evangelista São João e designado pelo próprio São Pedro para assumir o cargo naquela Igreja: Inácio de Antioquia.

Segundo uma antiga tradição, o primeiro encontro entre o imperador e Inácio dera-se quando este último, sabendo da passagem do césar por sua diocese, fora apresentar-se voluntariamente a ele. Submetido a um interrogatório no qual Trajano tratou-o de "espírito malvado", respondeu o santo com majestade: "Ninguém pode chamar a Teóforo de espírito malvado". "Quem é o Teóforo ou portador de Deus?" perguntaram-lhe."É aquele que leva a Cristo em seu peito..." Instado pelo imperador para que se explicasse mais sobre essa afirmação, o homem de Deus declarou: "Está escrito: ‘Habitarei e andarei no meio deles'" (2 Cor 6, 16). Assim, por essas palavras, ele mesmo dava testemunho de um milagre que viria a ser confirmado após o seu martírio.

Trajano ordenou, pois, que Inácio fosse acorrentado e conduzido a Roma, sob a custódia de dez soldados, para ali ser lançado às feras no anfiteatro Flaviano.

Dolorosa viagem, desfile triunfal

Grande foi a consternação dos fiéis ao conhecerem a sentença que recaíra sobre seu amado pastor. Ele, pelo contrário, regozijava-se e não deixava de dar graças a Deus por ter sido achado digno de tão grande misericórdia. Já antes da partida, embarcando no porto de Selêucia, a notícia de sua detenção espalhara-se por aquelas regiões e de todas as partes acorriam os cristãos para vê-lo passar e dar um último adeus àquele que os precederia no Reino dos Céus. A dolorosa viagem viu-se, então, transformada em verdadeiro desfile triunfal. Em Esmirna, o bispo São Policarpo, acompanhado de seu rebanho, acolheu- o com manifestações de homenagem e respeito. Também as comunidades de Éfeso, Trales e Magnésia foram- lhe ao encontro em grande multidão, desejosas de pedir sua bênção e testemunhar os padecimentos daquele atleta de Cristo. Ele, de seu lado, não esquecera a missão que o Senhor lhe confiara e continuava a exercer seu ministério, apesar de ter as mãos apertadas por grilhões. A muitos batizou pelo caminho, a outros edificou pelas suas palavras cheias de unção, e a um número incontável inflamou na caridade, arrastando-os com seu exemplo a acompanhá-lo no martírio.

Seu zelo incansável levou-o a escrever sete cartas, dirigidas àquelas mesmas Igrejas que tão fervorosamente o haviam recebido. Seus escritos, verdadeiros tesouros de doutrina e espiritualidade, podem ser considerados como "a segunda formulação doutrinária cristã" 1.

Zeloso pregador da doutrina

Uma de suas principais preocupações estava na união que os fiéis deviam manter com Jesus Cristo, através da legítima hierarquia: bispos e presbíteros. Assim, exortava ele na carta aos magnésios: "Esforçai-vos por ficar firmes na doutrina do Senhor e dos apóstolos, para que tudo quanto fizerdes tenha bom êxito na carne e no espírito, pela fé e pela caridade, no Filho, no Pai e no Espírito, no princípio e no fim, com vosso digno bispo e a bem entretecida coroa espiritual de vosso presbitério, juntamente com os diáconos agradáveis a Deus. Sede submissos ao bispo e uns aos outros como, em sua humanidade, Jesus Cristo ao Pai, e os apóstolos a Cristo e ao Pai e ao Espírito, para que a união seja corporal e espiritual." 2 Em outra passagem, aconselhava a seu amigo Policarpo: "Tem cuidado pela unidade, pois nada há de melhor."3

Ao bispo de Antioquia é devida a honra de ter dado à Santa Igreja, por primeira vez, o glorioso título de católica: "Onde estiver o bispo, ali estarão também as multidões, da mesma forma que onde estiver Jesus Cristo, ali estará a Igreja Católica".

A dolorosa viagem transformou-se em verdadeiro desfile triunfal. Por onde passava as comunidades cristãs iam ao seu encontro em grande multidão, desejosas de pedir sua benção

4 Também foi ele o defensor de um ponto que só viria a ser elevado à categoria de dogma séculos mais tarde: o parto virginal da Santa Mãe de Deus. Assim escreveu aos efésios: "ao príncipe deste mundo foi ocultada a virgindade de Maria, seu parto e também a morte do Senhor".5 Aos seus caros esmirnenses também afirmava: "Crendo de igual modo que verdadeiramente nasceu da Virgem, foi batizado por João ‘para que nele se cumprisse toda a justiça.'" 6

A doutrina de Inácio era clara e segura; ele a haurira dos lábios daquele discípulo a quem tantos mistérios haviam sido revelados ao repousar a cabeça sobre o peito do Verbo Encarnado e nos longos anos de convivência com Maria Santíssima.

"Procuro aquele que morreu por nós!"

Entretanto, se as cartas deste insigne doutor manifestam toda a riqueza de seu ensinamento teológico, uma outra ainda, aquela enviada aos romanos, deixa entrever o sublime ardor de sua alma, elevada aos píncaros da mais pura mística. Tendo-lhe chegado a notícia de que os fiéis de Roma procuravam interpor toda sua influência para afastar dele a mortal condenação, apressou-se em dirigir- lhes, desde Esmirna, uma comovedora súplica: "Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que com alegria morro por Deus, contanto que vós não mo impeçais. Suplicovos: não demonstreis por mim uma benevolência intempestiva. Deixai-me ser alimento das feras, porque, através delas, pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus: que seja eu triturado pelos dentes das feras para tornar-me puro pão de Cristo!

Instigai, ao contrário, os animais para que neles encontre o meu sepulcro e nada reste de meu corpo para não ser pesado a ninguém, depois de adormecer. Então serei verdadeiro discípulo de Cristo, quando o mundo não mais vir sequer o meu corpo. Suplicai a Deus por mim, que por este meio me torne uma hóstia para Deus. [...]

Que nada, tanto das coisas visíveis quanto das invisíveis, segure o meu espírito, a fim de que eu possa alcançar a Jesus Cristo. Que o fogo, a cruz, um bando de feras, os dilaceramentos, os cortes, a deslocação dos ossos, o esquartejamento, as feridas pelo corpo todo, os duros tormentos do diabo venham sobre mim para que eu ganhe unicamente a Jesus Cristo! [...]

Procuro aquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai- me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, pois desejo ser de Deus. [...]

Vivo, vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado. Não há em mim um fogo que busque alimentarse da matéria, apenas uma água viva e murmurante dentro de mim, dizendome em segredo: ‘Vem para o Pai!' [...]

Se for martirizado, vós me quisestes bem. Se for rejeitado, vós me odiastes." 7

Expressões de tão heróica caridade só poderiam brotar de um coração tomado pela graça do martírio de maneira superabundante. Com efeito, assim nos explica São Tomás de Aquino: "Entre todos os atos de virtude, o martírio é aquele que manifesta no mais alto grau a perfeição da caridade. Porque tanto mais se manifesta que alguém ama alguma coisa, quanto por ela despreza uma coisa amada e abraça um sofrimento. É evidente que entre todos os bens da vida presente aquele que o homem mais preza é a vida e, ao contrário, aquilo que ele mais odeia é a morte, principalmente quando vem acompanhada de torturas e suplícios por medo dos quais ‘até os próprios animais ferozes se afastam dos prazeres mais desejáveis', como diz Agostinho. Deste ponto de vista, é evidente que o martírio é, por natureza, o mais perfeito dos atos humanos, enquanto sinal do mais alto grau de amor, segundo a palavra da Escritura: ‘Não existe maior prova de amor do que dar a vida por seus amigos.'" 8.

Um lutador resignado só pode ser traidor

Esta excelência da caridade que pervadia o interior de nosso santo, só tendia a crescer à medida em que se sucediam as etapas da viagem que o aproximavam da tão almejada meta. Embarcando no porto de Dirraquio - sempre sob o olhar vigilante dos guardas, os quais ele mesmo chamava de "dez leopardos", a causa dos maus tratos que lhe infligiam - enfrentou uma longa travessia, bordejando o sul da Itália e, por fim, desembarcou em Óstia, a 20 de dezembro do ano 107, último dia das festas públicas que se celebravam em Roma.

Na orgulhosa metrópole dos imperadores comemorava-se ainda o triunfo de Trajano sobre os dácios. Durante 123 dias haviam-se prolongado os espetáculos nos quais morreram 10.000 gladiadores e 12.000 feras. O bispo Inácio era esperado com ansiedade pela turba pagã, pois as vítimas ilustres e de aspecto venerável exerciam maior atração nos jogos circenses. Por isso, os soldados para lá conduziram-no sem demora. Os cristãos receberam-no às portas da cidade, com manifestações de sincera admiração e respeito. Alegravam-se ao vê-lo, mas lamentavam, ao mesmo tempo, que lhes fosse arrebatado tão cedo. Rogaram-lhe, então, que obtivesse de Deus o favor de que algumas relíquias suas lhes fossem deixadas após o martírio. Embora contra sua vontade - pois ele desejava ser devorado por inteiro - o santo varão acedeu bondosamente em fazerse cargo de pedido tão filial.

Arrastando suas cadeias, Inácio atravessou as ruas pavimentadas da capital do império: ao longe podia divisar os imponentes muros do Coliseu dominando o vale, circundado pelos montes Palatino, Esquilino e Célio. Aquele edifício representava para ele o termo de seus anelos, a realização de suas esperanças mais íntimas, a consumação de seu holocausto. Caminhava apressadamente, não com a resignação de um condenado, mas impelido pelos ardores de entusiasmo que não mais cabiam dentro de sua alma, convicto de que o lutador resignado é traidor. Aquele edifício servir-lhe-ia de túmulo e de altar, ao passo que seria o pedestal de onde seu espírito voaria ao céu.

"Desejaria ser triturado como o trigo"

Uma numerosa multidão acorrera ao Coliseu para presenciar o sangrento espetáculo e se deliciar com o destroçamento do corpo do mártir. Este, sereno e alegre, não manifestou a menor vacilação quando as grades foram abertas e entrou no vasto anfiteatro, à espera do trágico momento em que as bestas ferozes fossem soltas. As vaias e os escárnios daqueles pagãos para ele nada significavam. Pelo contrário, eram-lhe uma razão a mais para crer na invisível coorte de bem-aventurados a esperá-lo com uma palma e uma coroa.

Ouve-se um hurra na turbamulta, sucedido por silêncio e um grande suspense: os famintos leões irromperam na arena e, impetuosos, avançaram sobre a pura e inocente vítima para devorá-la. Entretanto, com a majestade e império que possuem as almas tomadas pelo Espírito Santo, o mártir estancou-as a meio caminho, com um simples gesto de mão.Num movimento solene, ajoelhou-se e, elevando os braços ao céu, clamou em alta voz: "Senhor, aqueles que me acompanharam e que são também vossos filhos, pediram-me que rezasse a fim de que algo lhes sobre deste martírio, para estímulo de sua fé. Eu, porém, desejaria ser triturado como o trigo para vos ser oferecido como hóstia pura. Senhor, fazei a vontade deles e também a minha, eu vos peço".

Após a oração, assistida com estupefação pela horda criminosa e pagã e pelas feras, com respeito, eis que ainda mais grandioso e nobre gesto permitiu a estas últimas sair de seu miraculoso encantamento e dar vazão aos instintos de sua voraz natureza.

Em poucos minutos, lá entravam os gladiadores a agrilhoar aqueles animais que acabavam de saciar seu bestial apetite com as carnes de um novo serafim. A arena vazia, o espetáculo terminado, retirou-se vagarosa e frustrada a assistência. Que demonstração de fé e de nobreza haviam presenciado!

"Põe-me como um selo em teu coração"

Os cristãos por ali ainda permaneceram à espera do cair do sol. E quando o manto da noite passou a cobrir a cidade de Roma, penetraram na arena à procura das poeiras tornadas relíquias ao serem embebidas pelo sangue daquele que agora os precedia na glória celeste.

Um milagre! Encontraram intactos um fêmur e o coração! Tomados de sobrenatural entusiasmo, caminharam sem medir distâncias, rumo às catacumbas e depois de algumas horas, constataram, à luz das lamparinas, outro milagre: num círculo, as veias e artérias do coração do santo mártir, constituíam as célebres palavras: Iesus Nazarenus, Rex iudeorum.

Inácio, o Teóforo, o portador de Deus, atestara seu nome com aquele comovedor prodígio. Seu coração amante fora subjugado e modelado pelo Amado, segundo aquele pedido do Cântico: "Põe-me como um selo em teu coração" (Ct 8, 6). Nem as tribulações, nem as correntes, nem os suplícios, nem a própria morte o haviam podido separar do amor de Cristo. Por sua santa vida, rica em pregações, em caridade e exemplos, assemelhara-se ao Divino Mestre, imitando- o enquanto verdadeiro Pastor das ovelhas. Por sua generosa entrega levada ao extremo da imolação, alcançara para sempre aquela "única coisa necessária" (Lc 10, 42): o convívio eterno com Aquele a quem só procurara na Terra, Jesus!

A este santo varão de Deus bem poderiam ser aplicadas as belas palavras de um autor medieval: "Forte é o amor, que tem poder para privarnos do dom da vida. Forte é o amor, que tem poder para restituir-nos o gozo de uma vida melhor. Forte é a morte, poderosa para despojar-nos do revestimento deste corpo. Forte é o amor, poderoso para nos roubar os despojos da morte e no-los entregar de novo.

Forte é a morte, a ela o homem não pode resistir. Forte é o amor que pode vencê-la, embotar-lhe o aguilhão, travar- lhe o ímpeto, quebrantar-lhe a vitória." 9

E uma vez mais caiu a noite sobre a grandiosa mole do Coliseu. As areias do circo pagão, regadas pelo sangue daquele que portara a seu Redentor no peito, transformaram-se de novo em campo arado e fértil, de onde germinariam muitos outros filhos da Esposa Mística de Cristo.

sábado, 6 de outubro de 2012

São Bruno


Hoje (06/10) lembramos o santo que se tornou o fundador da Ordem dos Cartuxos, considerada a mais rígida de todas as Ordens da Igreja, e que atravessou a história sem reformas.

Filho de família nobre de Colônia (Alemanha), nasceu em 1032. Quando alcançou idade foi chamado pelo Senhor ao sacerdócio, e se deixou seduzir. Amigo e admirado pelo Arcebispo de Reims, Bruno, inteligente e piedoso, começou a dar aulas na escola da Catedral desse local, até que já, cinquentenário e cônego, amadureceu na inspiração de servir a uma Ordem religiosa.

Após curto estágio num mosteiro beneditino, retirou-se a uma região chamada Cartuxa com a aprovação e bênção de São Hugo, Bispo de Grenoble, o qual lhe ofereceu um lugar. Isto se deu graças a um sonho que São Hugo teve. Neste sonho, apareciam-lhe sete estrelas que caíam aos seus pés para, logo em seguida, levantarem-se e desaparecerem no deserto montanhoso. Após este sonho, o Bispo recebeu a visita de Bruno que estava acompanhado por seis companheiros monges. Ao ver os sete varões, o Bispo Hugo reconheceu imediatamente neles as sete estrelas do sonho e concedeu-lhes as terras onde São Bruno iniciou a Ordem gloriosa da Cartuxa com o coração abrasado de amor por Jesus e pelo Reino de Deus. Com os monges companheiros, observava-se absoluto silêncio, a fim do aprofundamento na oração e à meditação das coisas divinas, ofícios litúrgicos comunitários, obediência aos superiores, trabalhos agrícolas, transcrição de manuscritos e livros piedosos.

Quando um dos discípulos de São Bruno tornou-se Papa (Urbano II), teve ele que obedecer ao Vigário de Cristo, já que o queria como assessor, porém, recusou ser Bispo e após pedir com insistência ao Sumo Pontífice, conseguiu voltar à vida religiosa, quando juntamente com amigos de Roma, fundou no sul da Itália o Mosteiro de Santa Maria da Torre, onde veio a falecer no dia 6 de outubro de 1101.

As últimas palavras foram: "Eu creio nos Santos Sacramentos da Igreja Católica, em particular, creio que o pão e o vinho consagrados, na Santa Missa, são o Corpo e Sangue, verdadeiros, de Jesus Cristo".


São Bruno, rogai por nós!

Maria Santíssima nos escritos dos Santos Padres da Igreja


Maria Santíssima nos escritos dos Santos Padres da Igreja

"Os monumentos das Catacumbas não são os únicos que proclamam o culto dos primeiros cristãos a Maria.

A invocação a Nossa Senhora conclui-se dos escritos dos Santos Padres, desde os primeiros, preocupados em demonstrar e defender as prerrogativas da Santíssima Virgem.

Em muitas passagens dos Actos dos Apóstolos, lemos que os cristãos primitivos pediam aos seus irmãos que intercedessem por eles, porque estes irmãos eram discípulos e amigos de Cristo.

Seria inacreditável que não recorressem à intercessão de Maria, a Mãe de Jesus, para alcançarem as suas graças.

Se é verdade que muitos testemunhos vamos encontrar da crença e afirmação das prerrogativas de Nossa Senhora, da sua Maternidade Divina, Virgindade, antes, durante e depois do parto, também é verdade que documentos que nos comprovem em escritos o culto de invocação a Maria, confessamos nos ser difícil encontrá-los.

Isto porque nos ficaram pouquíssimas obras anteriores à paz da Igreja, nos princípios do século IV, e estas eram na sua maior parte livros de apologética e de controvérsias, nos quais dificilmente encontraríamos de modo explícito o culto a Maria.

A princípio Maria ocupa lugar modesto e pouco se fala dela. Não obstante, as afirmações dogmáticas da Santíssima Virgem se encontram desde os primeiros tempos e na falta de documentos escritos da invocação a Maria, delas deduzimos o grande apreço que os fiéis primitivos tinham para com a Mãe de Deus.

A primeira onda mariológica começa na idade apostólica e chega ao seu auge com a definição da Maternidade Divina no Concílio de Éfeso, no ano 431.

Três são as principais ideias mariológicas na época que precede o citado concílio: A Mãe de Deus, a Virgem intacta, a Nova Eva.

No Oriente, os Santos Padres colocam em relevo a maternidade divina. Para Santo Inácio, bispo de Antioquia, Jesus, o Filho de Deus, foi verdadeiramente gerado, segundo a natureza humana, por Maria (Aos Efésios 7,2).

São Justino Mártir escreve que Jesus, que é Deus, tomou de Maria a natureza humana e nasceu dela como homem.

Santo Irineu propõe a mesma doutrina e a comprova com argumentos da Sagrada Escritura e da Tradição Católica.

A Virgindade de Maria foi também defendida pelos Padres da Igreja. Na carta aos Efésios, Santo Inácio afirma a virgindade antes do parto e faz uma alusão à virgindade no parto. São Justino nos deixou documentos com a mesma afirmação. Santo Irineu já afirma explicitamente a Virgindade antes e no parto, e implicitamente depois do parto.

A virgindade perpétua, antes, durante e depois do parto, será afirmada mais tarde por Orígenes. São Pedro de Alexandria será o primeiro a designar Maria com o nome de “Virgem”. Exaltam a perpétua virgindade Santo Efrém, Santo Epifânio, São João Crisóstomo, São Gregório Taumaturgo e outros.

A ideia de Maria, a Nova Eva, encontra-se já no século II em São Justino: "Cristo fez-se homem por meio da Virgem, afim de que a desobediência provocada pela serpente tivesse fim pela mesma via por onde havia começado".

Santo Irineu desenvolve esta ideia e chama a Maria, a Advogada de Eva".

Também alusões à santidade e realeza de Maria encontramos nos Santos Padres. De modo explícito, Santo Efrém diz que Maria é imune de toda a mancha de culpa.

São Gregório invoca a Maria e afirma que por sua intercessão recebera a verdadeira doutrina da fé sobre a Santíssima Trindade. Este facto pareceu tão natural que ninguém se admirou, o que prova que o culto deprecatório à Mãe de Deus não era uma novidade na Igreja.

No Ocidente, a Mariologia foi descrita pelos Santos Padres realçando as prerrogativas de Nossa Senhora. Tertuliano faz da maternidade divina o centro da sua Mariologia. Santo Hipólito Romano é o primeiro a usar o termo "Theotocos", isto é, Mãe de Deus. E a maternidade divina é exaltada por Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Zenon e outros. Em relação à virgindade perpétua, para Santo Hipólito, Maria Santíssima é a Virgem por antonomásia.

Santo Ambrósio faz da Virgindade perpétua de Maria o ponto central da sua Mariologia. O mesmo ensinam outros Santos Padres, como Santo Agostinho, e São Jerónimo, que foi o primeiro e o mais forte apologista da virgindade perpétua de Maria.

Entre os ocidentais foi Tertuliano o primeiro a pôr em relevo a ideia de Maria, a Nova Eva. Santo Ambrósio, no notável paralelismo Eva-Maria, afirma que a Virgem concebeu a salvação de todos. Fala depois sobre a maternidade espiritual e universal de Maria, fundamentando-a na doutrina paulina do Corpo Místico de Cristo, que por Maria tornou-se cabeça universal da humanidade. A ideia de Maria, a Nova Eva, encontra-se também em São Zenon, São Jerónimo e Santo Agostinho. Como Santo Ambrósio, fala-nos Santo Agostinho da maternidade espiritual de Maria, a “Mãe dos membros de Cristo, que somos nós”.

A santidade e realeza de Maria são exaltadas especialmente por Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerónimo. Apresentam-na como o modelo das Virgens, imune de qualquer mancha de culpa e sempre "'na luz e nunca nas trevas".

Houve motivos que impedissem um mais notável desenvolvimento da Mariologia na sua primeira fase, isto é, dos tempos apostólicos até ao Concílio de Éfeso. Primeiro, as contínuas perseguições no Oriente e no Ocidente; depois, a atenção dos Padres voltada quase exclusivamente para a figura de Cristo, centro da doutrina cristã; em terceiro lugar, os erros cristológicos daqueles tempos. Estes erros, destruindo o verdadeiro homem, o verdadeiro Redentor, comprometiam também indirectamente em Maria a qualidade de Mãe, de Virgem e de Nova Eva.

Contra os docetas que negavam a verdadeira humanidade de Cristo, os Padres opuseram a real maternidade de Maria.

Contra os arianos que negavam a divindade de Jesus, opuseram o seu nascimento virginal, prodigioso. Contra o falso conceito de mediador e a multiplicidade de mediadores, opuseram o plano divino no qual o novo Adão, Único Mediador perfeito para reconciliar Deus com os homens, está associado à nova Eva, em oposição ao primeiro Adão e à primeira Eva que com o pecado afastaram Deus dos homens.

Embora sem carácter de novidade, o que prova a existência anterior do culto a Maria, a sua devoção espalhou-se extraordinariamente, quando o III Concílio Ecuménico, celebrado em Éfeso, em 431, profligando as heresias de Nestório e seus sequazes, definiu a Maternidade Divina de Maria.

No ano seguinte, o Papa Sixto III consagrava em Roma a patriarcal basílica de Santa Maria Maior. Igrejas e Santuários levantaram-se por todo o mundo em honra da Santíssima Virgem, Mãe de Deus. Na liturgia da Igreja introduziram-se as grandiosas festas de Nossa Senhora, Rainha e Senhora do Universo.

Assim se explica a devoção a Maria Santíssima, cujas raízes se lançaram no início do cristianismo. O que cremos de Maria, o que honramos em Maria, é aquilo, exactamente o mesmo, nem mais nem menos, que os nossos antepassados na fé creram e veneraram desde a origem da Igreja: a Maternidade Divina e a Maternidade de graça de Maria, a Mãe de Cristo Jesus e a Medianeira da salvação."

(Cónego Paulo Dilascio, “As mais belas Histórias do Cristianismo”)

fonte: http://missaomariaachamadepentecostes.blogspot.com.br/2011/02/santos-padres-da-igreja-e-maria.html