Nossa Senhora da Saúde

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sábado, 22 de junho de 2013

As sepulturas na pré-história EB



Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 306 – Ano 1987 – p. 444

Em síntese: As mais antigas sepulturas da pré-história datam de 80.000 a.C. (período paleolítico inferior). Revelam a existência, no homem pré-histórico, de espiritualidade e de senso religioso; com efeito, sepultando seus mortos, os antigos julgavam que eles sobrevivam o que está ligado à crença em Deus ou na Divindade, que assegura ao homem a vida póstuma. Assim o senso religioso, a fabricação de instrumentos de pedra lascada e a produção do fogo são os primeiros sinais da inteligência humana sobre a face da Terra. A religião da racionalidade ou da inteligência humana desde que ela aparece no mundo. Note-se que os animais irracionais não sepultam seus mortos.

As pesquisas de paleontologia têm permitido mais e mais reconstituir os inícios do ser humano sobre a face da terra. É certo que se trata de setor de estudos ainda obscuro e talvez impenetrável em muitos de seus aspectos, pois a própria passagem do tempo destruiu documentos e monumentos que revelariam algo dos primórdios da humanidade.

Um dos pontos que ultimamente têm vindo à baila, é o das sepulturas da pré-história. Examinemos os dados arqueológicos e procuremos ler o seu significado.

Os dados arqueológicos

A pré-história é o período que abrange as atividades do homem anteriores ao aparecimento da escrita, isto é, anteriores a 8.000 a.C..

aproximadamente. Compreende os períodos da Idade da Pedra, em que os homens usavam exclusivamente armas e instrumentos de pedra, sem recurso ao bronze e ao ferro. Nesse uso da pedra, há aperfeiçoamento paulatino, de modo que se distinguem:

a idade paleolítica; os mais antigos instrumentos de pedra têm cerca de 2.500.000 anos. O homem criou então balas, martelos, machados de pedra; descobriu a produção do fogo; vivia da caça de animais e da coleta de frutas e raízes que encontrava. Morava em cavernas, abrigos naturais ou ao ar livre; a idade mesolítica; a idade neolítica.

As linhas divisórias entre essas três épocas da Idade da Pedra são diversamente assinaladas pelos autores, dada a exigüidade de elementos disponíveis para se fazerem cálculos. Mas isto não importa ao tema que aqui nos interessa: as sepulturas da pré-história.

As mais antigas que conheçamos, datam de 80.000 a.C. Para as épocas anteriores a esta data, não temos vestígios explícitos; e isto, por vários motivos: 1) quanto mais recuamos no tempo, mais escassos são os documentos preservados: 2) por ocasião das escavações arqueológicas, o próprio trabalho de remoção de entulhos e terra contribui para deslocar ossadas e instrumentos; assim o que os arqueólogos podem observar, já não tem as suas características típicas originais (como seriam as de uma sepultura); a mensagem dos fósseis torna-se então incompreensível; 3) em vez de sepultar em covas abertas pela mão do homem, os antigos podiam sepultar em depressões do terreno o que contribui para descaracterizar as sepulturas (…).

Hoje conhecem-se cerca de quinze sepulturas da Idade da Pedra – o que é considerado muito significativo; conseguiram atravessar milênios sem se desfazer pela ação das chuvas, da erosão, dos terremotos, das guerras, etc. Eis alguns dos seus principais sítios:
La Chapelle-aux-Saints (França), Grimaldi (Itália), Arena Candida (Itália), Shanidar (Iraque), Qafzeh (perto de Nazaré, Israel)… Quanto mais o período da Pedra avança no tempo, mais profusos aparecem os ritos funerários: as pinturas das cavernas e os artifícios múltiplos que cercavam os mortos, revelam cuidados especiais para com os corpos dos defuntos.

Verifica-se que os cadáveres não eram abandonados, sem mais, à deterioração natural, como se daria no caso de um cão ou de uma ave. Todos os esqueletos da Idade da Pedra, aparecem deitados sobre o lado direito ou o esquerdo, encolhidos, com as mãos e os pés lembrar o feto no útero materno ou o adulto adormecido; não foram lançados à terra de qualquer maneira, mas mereceram
carinho e solicitude da parte dos sobreviventes. Junto ao cadáver colocavam utensílios diversos: armas, estatuetas de Vênus (símbolo da Vida e da fecundidade), jóias (como dentes perfurados, conchas perfuradas, braceletes, pérolas, espinhas de peixe, colares…).

Ao ser sepultado, o cadáver era salpicado de ocre vermelho (minério de ferro) ou era deitado em leito de ocre; este, por sua cor, seria símbolo do sangue e, por conseguinte, da vida. Às vezes, o ocre era colocado explicitamente diante da boca e das fossas nasais, como símbolo do sopro de vida.

Especialmente interessante é a sepultura das duas crianças de Spungir, na URSS: foram enterrados juntas, uma delas tendo a seu lado uma grande lança, oito dardos, dois punhais, dois bastões furados; a outra tinha também uma grande lança comigo, mas apenas dardos e um punhal. Muitas pérolas se achavam em torno da cabeça, dos braços, das pernas, do peito e sobre os pés de cada esqueleto. Traziam bonés muito “ricos” com carreiras de pérolas de marfim de diversas formas dispostas paralelamente,
caninos de raposa polar, semi-anéis talhados em chifre de mamuth (possivelmente destinados a prender os cabelos ou as caudas de raposa que ornamentavam a cabeça). Os punhos tinham braceletes finos; e os dedos, anéis de marfim. Sobre o peito de um dos esqueletos, encontrou-se uma figura de cavalo em forma de placa.

Merece atenção ainda a sepultura dita “do Jovem Príncipe” em Arena Candida (Itália): em torno da cabeça, encontraram-se glóbulos perfurados, jóias outrora cozidas sobre as suas vestes, um grande punhal de pedra em sua mão.

Em Shanidar (Iraque), encontraram-se em torno do esqueleto sedimentos com vestígios de pólen – o que significa que fora o cadáver enterrado sobre um leito de flores vivas e coloridas (…) Isto há cerca de 50.000 anos!

Parece que a ornamentação e os utensílios variavam de acordo com a idade, o sexo e as funções desempenhadas outrora pelo defunto.

À medida que as populações pré-históricas foram assumindo a vida sedentária, constituíram cemitérios. Em conseqüência, foram descobertas verdadeiras necrópoles em Teviec e Hoëdic (Bretanha, França), Muge (Portugal), Vedbaek (Dinamarca), Mallaha (Israel).

Indaga-se agora:

Que pensar?

Qual terá sido a razão do sepultamento dos mortos desde a pré-história?

Em geral, os cientistas estão de acordo em reconhecer que tais sepulturas não têm valor apenas utilitário ou pragmático (atender à higiene, por exemplo), mas exprimem a convicção de que os antepassados sobrevivem no além; precisam de ser acompanhados, guarnecidos, equipados (se não, poderiam voltar?…). A crença na sobrevivência, por sua vez, está ligada à crença em Deus (entendido como os antigos o podiam entender); os defuntos estariam em demanda da Divindade ou já a teriam encontrado… As mitologias dos povos históricos desenvolvem amplamente as crenças do homem pré-histórico, apresentando as “peripécias” ou “aventuras” da vida póstuma.

O Prof. Cécile Lestienne escreveu a respeito o artigo “Funérailles d’antan” na revista “Science et Avenir”, nº 480, fevereiro 1987, pp. 54-59, onde tece as seguintes considerações:

“Podemos afirmar que os sepultamentos intencionais estão obrigatoriamente associados à crença no Além, numa vida póstuma ou num renascimento…? Nosso conhecimento das sociedades arcaicas e primitivas poderia sugerir-no-lo. Mas diz Leroi-Gourhan: Até um ateu aceita ser enterrado…

Não obstante, parece que essa sepulturas são o testemunho de uma certa espiritualidade. É certo que elas não são devidas apenas a cautelas de higiene. Por que os antigos se dariam ao trabalho de enterrar alguém, quando seria mais simples lançar o cadáver numa fossa um tanto afastada?

Mas ainda mais significativos do que esta reflexão são outros indícios:… os corpos não foram enterrados de qualquer modo. O seu sepultamento exigiu cuidados e atenção dos sobreviventes” (pp. 56s).

Assim o Professor Lestienne mesmo acaba reconhecendo que os resquícios funerários da pré-história são o indício da espiritualidade do homem, desde os primórdios da sua pré-história: “Há ao menos 80.000 anos que os homens enterram os seus mortos. Estudando como nossos ancestrais cuidavam dos seus defuntos, os pesquisadores da pré-história esboçam o nascimento da espiritualidade” (revista citada, p. 54).

Um estudioso cristão não pode deixar de valorizar enormemente esses túmulos pré-históricos. São típicos do ser humano, pois nenhum animal, por mais aperfeiçoado que seja, sepulta os seus mortos; o homem, ao contrário, desde que aparece sobre a face da Terra, prática a inumação. Com isto também fica patente que o senso religioso é outra nota congênita no homem desde os albores da existência humana; a religião não é um fenômeno tardio da criatura amedrontada ou amesquinhada pelas forças da natureza, mas é o testemunho da inteligência desde que ela pode ser identificada na penumbra da pré-história. A fabricação de instrumentos lascados em vista de um objetivo a produção do fogo e o sepultamento dos mortos são as primeiras manifestações da racionalidade humana na pré-história.


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